Acredito que uma pessoa é e sempre será a maior inimiga dela mesma. Infelizmente, tenho provas disso todos os dias, mesmo sem querer. É claro que conscientemente ninguém vai se maltratar ou se ferir. Mas existe um universo desconhecido dentro de nós mesmos e no fundinho dele tem uma parte chamada boicote. É como uma espécie de anjinho e diabinho: o anjinho caminha para o lado do bem, o diabinho puxa com força seu braço para o caminho da lama. E a vida nada mais é que uma tentativa absurda, diária e árdua de equilíbrio.
Nem sempre consigo ser tão equilibrada, ponderada e organizada quanto gostaria. Alguns dias são bem perturbadores e nunca sei direito como lidar com eles. De certa forma resisto um pouco em dar o braço a torcer para a falha. Eu não sei perder, tampouco gosto de não ter razão. Um lado orgulhoso ainda tem muito o que aprender sobre os precipícios. Nem sempre quero cair, às vezes, mesmo torta, exausta e me arrastando quero continuar andando. Preciso aprender a me deixar levar, a aceitar que chega um momento em que a gente perde a força e a própria verdade. Mas sou turrona, durona, não desisto tão fácil. Juro que quando bate o desânimo eu o aceito, acolho, beijo, abraço e mando embora. Muitas vezes o desânimo só quer um carinho, por isso faz essas visitas inesperadas.
Existe também a famosa culpa. Por que fiz isso? Por que não fiz aquilo? Esqueço que o que eu fiz já está feito. E às vezes remendar só fica pior. Então
é preciso inspirar, expirar e não pirar. Volta e meia chega aquela insanidade travestida de esperança, o tal do "e se". E se eu tivesse tido uma chance? E se não estivesse chovendo? E se eu não tivesse me calado? É pura insanidade, pois o momento que passou não volta. E não adianta ficar filosofando incansavelmente sobre ele, isso nunca vai mudar aqueles milésimos de segundos que já se foram e não mais voltarão.
Quando tenho uma meta muitas vezes pego alguns caminhos alternativos, desvios, esconderijos secretos. Nada que me desvie completamente do rumo escolhido, mas o caminho é mais longo e muitas vezes um pouco espinhoso. E olha que tenho pressa de chegar ao destino, não sou nada paciente, mas me boicoto frequentemente. Talvez não me ache capaz ou merecedora de bençãos e alegrias. Talvez. Ou talvez eu pense que vida bonita é coisa de filme. Talvez. Ou talvez eu ainda ache que essas coisas não são pra mim. Talvez. Penso demais e isso me atrapalha, fico tentando concatenar fatos, coisas, pessoas, situações e acabo no vazio, na imensidão, no questionamento. Ao invés de me aquietar, focar e ir atrás dos meus objetivos fico com interrogações mentais que nunca são solucionadas. Não entendo por qual razão penso tanto, às vezes, mesmo no silêncio, o pensamento está lá, lavando, passando, cozinhando, conversando, divagando. E eu fico ouvindo, afinal, não posso virar as costas para o coitado. Ele é sempre tão generoso e solícito comigo, seria uma injustiça bater a porta na cara dele. Então eu ouço. E por vezes ele tem um quê de inconveniência, sinto vontade de mandá-lo embora, mas me calo e escuto. Já me falaram dá-um-chega-pra-lá-nele, mas não consigo. Preciso aprender a ser mais dura, a pensar menos, a me equilibrar mais, a me estragar menos. Tomara que um dia eu chegue lá.
Clarissa Corrêa
2 comentários:
Que palavras lindíssimas Marta! Adorei a partilha!
THE PINK ELEPHANT SHOE
Força Martita! Dias melhores virão! Alguma coisa, sabes onde me encontrar...
Beijinhos
Sandra C.
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