quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A paciência da espera...


Por favor, não me entenda mal. Não quero que você pense que meu coração é feito de lama congelada e cravejado de pregos enferrujados. Posso confessar? Chega mais pertinho, me dá um pouco de atenção, preciso daquele olhar amigo, cúmplice, que entende e acolhe todos os medos silenciosos e tolos. Ando um pouco assim, silenciosa e tola. Ando perdida, carente, repensando a vida e me perguntando até quando. Sempre chega o dia em que a gente sente um aperto na garganta e aquela voz interna e aguda pergunta "até quando"?

Não sei se ainda consigo fingir que isso não está me machucando. Ei, eu não sou tão fabulosa assim. Sofro meio calada no meu canto, não quero incomodar com o barulho do meu discreto soluço. Mas a verdade é que ando me sentindo sem valor. Parece que o mundo inteiro é mais legal, inteligente, sarado e bonito. E eu aqui, decadente, com o esmalte rosa pink descascado, um jazz contemporâneo invadindo a sala, o parmesão mofado na geladeira e um vinho que estava em promoção na taça rachada e suja de batom da Mac paraguaia. Eu e uma solidão assustadora. Eu e pensamentos estranhíssimos. Mas sou estranhíssima, vivo em um mundo estranhíssimo e gente assim tem vida estranhíssima, logo, pensamentos estranhíssimos. Então está tudo bem. Será que está mesmo? Será que estamos bem? Será que sobreviveremos? Será que sobreviverei? Não sei e nunca saberemos. Mas tento viver e renascer todos os dias. Pelo menos tenho consciência que não estou apenas sobrevivendo. O sobreviver aos dias é que deve ser amargo e quase deprimente. Sobreviver dói demais, pois o peso da vida é todo colocado em cima dos ombros. Viver e renascer, essa é a grande mágica, essa é a grande lógica, essa é a grande questão.

Com alguma dificuldade, percebo que a vida nem sempre sai conforme o planejado e que frequentemente o que foi programado precisa sofrer pequenas modificações. Então me pergunto: será que as coisas serão sempre assim ou um belo dia tudo vai se resolver conforme eu espero? Outra pergunta chega correndo, descabelada e esbaforida: quem disse que o que eu espero é realmente o melhor pra mim? Quem disse que é o que preciso? Mas eu não sou a pessoa certa para saber o que preciso? O que eu preciso deve estar bem claro na minha mente. Mas será que sei realmente o que preciso? A gente muda tanto e o tempo todo. O que eu jurava que precisava no ano passado hoje é simplesmente purpurina jogada no meio da rua. O que eu tenho certeza que preciso hoje provavelmente vai ser um grão de areia no meio do Saara amanhã. Mudamos, ainda bem. Nos reformamos, ainda bem. Evoluímos com alguma dificuldade, ainda bem.

Como você pode ver, a vida nada mais é que um emaranhado de questionamentos. E a maioria deles fica sem resposta, nossa maior missão é tentar encontrar algo que faça sentido no meio desse turbilhão de emoções, acontecimentos, anseios e metas. Sigo na busca, sigo na luta, sigo na lida. Espero que em breve as respostas parem de se esconder de mim.

Clarissa Corrêa

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